Quem "amarelou"
Por Unknown,
Severino Francisco
Na virada da década de 1960, o então iniciante cineasta Arnaldo Jabor procurou o dramaturgo Nelson Rodrigues e pediu a liberação dos direitos de uma peça para fazer uma versão cinematográfica. Nelson perguntou ao jovem cineasta se ele havia dirigido algum filme antes e Jabor comentou: “Eu fiz um filme chamado Pindorama, que foi um fracasso”. Mas a resposta de Jabor agradou a Nelson: “Parabéns, meu filho, você começou bem. Quem nunca fracassou é uma besta!”. Eu me lembrei do diálogo de Jabor com Nelson em razão do tom francamente yuppie dos comentários à performance dos atletas brasileiros na Olimpíada de Pequim. Segundo esses comentários, eles teriam “amarelado”. Não se trata de fazer o elogio do fracasso. Pelo contrário: trata-se de aprender e tirar lições dos erros, dos revezes, das perdas. Claro que ganhar faz bem à alma, mas só os yuppies imaginam que é possível vencer sempre, no esporte ou na vida.
Os comentaristas de uma emissora de rádio chegaram a dizer que o Brasil só deveria enviar atletas para as Olimpíadas se tivesse a certeza de que eles iriam ganhar. Nós queremos vitórias, a qualquer preço, para lavar as nossas frustrações históricas. Mas, durante a própria Olimpíada, nós vimos inúmeras imagens e depoimentos sobre a real situação dos esportes amadores no Brasil. O judoca Luciano demorou dez anos para mudar de faixa porque não tinha R$ 1.500 para arcar com os custos do ritual de passagem. A brasiliense Katleyn Quadros, primeira mulher brasileira a faturar uma medalha olímpica, só conseguiu construir uma carreira graças à garra da mãe cabeleireira, da tia e da avó.
Mas esta é a graça do esporte e da vida: falhar, errar, fracassar e dar a volta por cima. A seleção feminina de vôlei foi alvo de uma campanha sórdida por ter perdido um jogo para a seleção russa, em uma semifinal, depois de estar ganhando de 24 a 19, na Olimpíada de Atenas. No entanto, agora elas conseguiram superar todas as adversidades e defenderam a camisa do Brasil com uma cara de Brasil: com raça, vibração e audácia. A Paula Pequeno falou com muita lucidez: “Torcer quando a gente está ganhando é sempre muito fácil. Mas quando perde é que a gente precisa de mais força, de mais palavras positivas, de energias positivas”.
Explicar todos os fracassos nas Olimpíadas pelo “amarelou” é pedir demissão do senso crítico e derrapar em uma psicanálise de galinheiro. Todos os países vencedores em qualquer modalidade dos esportes olímpicos investiram pesado antes de obter resultados. Em quase todos ocorreu a óbvia associação entre esporte e educação. Na verdade, o esporte é, em si mesmo, educação; ensina a ganhar, a perder e a superar os desafios. O esporte é como a vida: depende de trabalho, garra, investimento, tenacidade, do talento e do imprevisível. Pretender em esporte que sempre se ganhe, sem que ocorra nada de imponderável, é um delírio yuppie. Esses são os verdadeiros “amarelões”, que querem ganhar sem investir, sem lutar e sem perder. Brindemos com um verso do poeta carioca Armando de Freitas Filhos a todas as mães, tias, avós e amigos que apoiaram os nossos atletas: “Medalha no seu peito/E no meu, o coração”.
Do Blog da Ceição

Os comentaristas de uma emissora de rádio chegaram a dizer que o Brasil só deveria enviar atletas para as Olimpíadas se tivesse a certeza de que eles iriam ganhar. Nós queremos vitórias, a qualquer preço, para lavar as nossas frustrações históricas. Mas, durante a própria Olimpíada, nós vimos inúmeras imagens e depoimentos sobre a real situação dos esportes amadores no Brasil. O judoca Luciano demorou dez anos para mudar de faixa porque não tinha R$ 1.500 para arcar com os custos do ritual de passagem. A brasiliense Katleyn Quadros, primeira mulher brasileira a faturar uma medalha olímpica, só conseguiu construir uma carreira graças à garra da mãe cabeleireira, da tia e da avó.
Mas esta é a graça do esporte e da vida: falhar, errar, fracassar e dar a volta por cima. A seleção feminina de vôlei foi alvo de uma campanha sórdida por ter perdido um jogo para a seleção russa, em uma semifinal, depois de estar ganhando de 24 a 19, na Olimpíada de Atenas. No entanto, agora elas conseguiram superar todas as adversidades e defenderam a camisa do Brasil com uma cara de Brasil: com raça, vibração e audácia. A Paula Pequeno falou com muita lucidez: “Torcer quando a gente está ganhando é sempre muito fácil. Mas quando perde é que a gente precisa de mais força, de mais palavras positivas, de energias positivas”.
Explicar todos os fracassos nas Olimpíadas pelo “amarelou” é pedir demissão do senso crítico e derrapar em uma psicanálise de galinheiro. Todos os países vencedores em qualquer modalidade dos esportes olímpicos investiram pesado antes de obter resultados. Em quase todos ocorreu a óbvia associação entre esporte e educação. Na verdade, o esporte é, em si mesmo, educação; ensina a ganhar, a perder e a superar os desafios. O esporte é como a vida: depende de trabalho, garra, investimento, tenacidade, do talento e do imprevisível. Pretender em esporte que sempre se ganhe, sem que ocorra nada de imponderável, é um delírio yuppie. Esses são os verdadeiros “amarelões”, que querem ganhar sem investir, sem lutar e sem perder. Brindemos com um verso do poeta carioca Armando de Freitas Filhos a todas as mães, tias, avós e amigos que apoiaram os nossos atletas: “Medalha no seu peito/E no meu, o coração”.
Do Blog da Ceição
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